Uma Quase Tragédia de Carnaval

Era uma vez, há muitos anos, uma quase tragédia de carnaval.

Eu voltava pra casa dirigindo. No carro comigo estavam minha filha, ainda bebê, sentada em sua cadeirinha, meu filho pequeno e um sobrinho com febre.

Eu mal sabia o que estava prestes a acontecer.

Na rua que leva à minha casa, cometi um erro. Um erro grave.

Virei na esquina errada.

Acabei no meio de um bloco. Um grupo enorme de pessoas que estavam, há muito tempo, bebendo, dançando, fumando e cheirando sob o sol escaldante.

Em instantes, o carro foi completamente cercado. Eu não podia ir nem para frente, nem para trás, sem machucar alguém.

O calor era infernal. A bebê começou a chorar. O sobrinho ardia em febre.

Eu não conseguia ver o fim da multidão que cercava o carro.

Muitos deles, bêbados, começavam a bater nas janelas do carro, em uma brincadeira que ia ficando cada vez mais agressiva e assustadora.

Um filme passou na minha cabeça.

Antevi o desastre prestes a acontecer, as manchetes do dia seguinte, se eu fizesse qualquer movimento em falso com o carro.

Não tinha para onde ir. No carro, três crianças, uma chorando, outra com febre alta, todas com muito medo.

Então uma luz divina me inspirou.

Desci o vidro e acenei para um dos “foliões” mais próximos para que se aproximasse.

“Toma aqui pra você”, eu disse, estendendo a ele uma nota de R$ 50. “Vai abrindo caminho pra eu sair daqui, por favor?”.

Milagrosamente, ele foi.

Aos poucos, passo a passo, metro a metro, a multidão foi cedendo, abrindo caminho, e eu consegui passar com o carro.

Cheguei em casa com o coração a mil por hora.

Nunca esqueço aquele dia.

Fechado no carro, com três crianças, uma delas doente, refém do acaso e da loucura momentânea de uma multidão intoxicada.

Uma cidade não deve ser assim.

Uma cidade não pode ser assim.

Eu nunca esquecerei daquele dia, um dia de carnaval, anos atrás

 

Receba meus textos direto em seu email clicando aqui: http://eepurl.com/dxnu01

 

Comentários