O dono sempre leva a arara para passear por ali, que é meu quintal, meu canto preferido no mundo.
Já vi a arara surfando um vento sudoeste lá no alto, junto com os mergulhões.
Ela subia, subia muito, abria bem as asas, se equilibrava e deslizava no vento que, vindo do mar – da direção da Barra da Tijuca – batia nos prédios da rua Francisco Bhering e era refletido para cima.
Lá no alto a arara gargalhava de alegria. Depois, pousava nas árvores, descansava e subia aos ares de novo.
Coisa mais linda de se ver.
Alegria pura, em tempos tão cheios de apreensão.
A primeira vez que vi a arara foi em um dia lindo, de céu completamente azul.
Caminhávamos para a praia pela rua Petit – aquele pequeno corredor de 100 metros, entre o Parque Garota de Ipanema e o hotel Arena, que liga a rua Francisco Otaviano à praia do Arpoador – quando ouvimos a gargalhada.
Olhando para cima, vimos o inacreditável: o imenso pássaro, com o corpo coberto de penas com todas as cores do Brasil – mas onde predominava o azul – brincando de flutuar sobre os prédios e o parque.
E gargalhando.
“É uma arara mesmo?”, perguntei a Alexandra, enquanto corríamos para acompanhar o balé aéreo.
Era.
No mar do Arpoador, os alunos das escolinhas de surfe deslizavam sobre pranchas, as roupas de borracha colorindo as ondas.
Lá em cima, contra um céu tão azul que ameaçava nos cegar, a arara ria alto e surfava o ar.
Que privilégio viver em uma cidade assim, nós provavelmente pensamos.
Mas ninguém falou nada.
Ficamos ali, em silêncio, olhando o mar e a arara.
Aqui é meu quintal, pensei, onde crio meus filhos; meu canto preferido no mundo.
O canto do olho ficou meio umedecido por uma ameaça de lágrima.
Mas deve ter sido a força do vento frio.
O mesmo vento que levantava a arara bem alto, nos céus do Arpoador.
Que sua gargalhada cubra essa cidade, pensei.
E que Deus abençoe o Rio de Janeiro.
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