Por que demora a primavera ? Perguntam os homens. Por que demoram a justiça e a liberdade?
17 de dezembro de 2010 foi o último dia da vida de Tarek Mohamed Bouazizi.
Esse nome provavelmente não lhe trará lembrança alguma.
Tarek era um homem sem importância.
Ele era um vendedor ambulante.
Seu pai, um operário de construção civil, morreu de infarto quando Tarek tinha 3 anos. Tarek e seus seis irmãos foram educados em uma escola de apenas um cômodo na zona rural de Sidi Bouzid, uma cidade da Tunísia onde a taxa de desemprego era de 30%.
Tarek lutava para sobreviver vendendo frutas e verduras nas ruas. Ele sustentava a mãe e os irmãos, e até pagava os estudos universitários de uma das irmãs.
Mas desemprego e pobreza não eram os maiores problemas de Tarek.
O maior problema era a corrupção.
De acordo com amigos e parentes, as autoridades locais assediavam Tarek há anos, impedindo-o de trabalhar e confiscando seu carrinho de mercadorias.
A razão é a mesma de sempre – a velha conhecida de todos os brasileiros que tentam ganhar a vida empreendendo: falta uma licença, falta uma permissão, não é permitido vender isso aqui. A não ser que.
Tem sempre o a não ser que.
Na manhã de 17 de dezembro de 2010 os achacadores apareceram e começaram seu ritual. Tarek não tinha dinheiro. Uma fiscal, com o apoio de dois guardas, confiscou tudo o que ele tinha: duas caixas de peras, uma caixa de bananas, três caixas de maçãs e uma balança eletrônica usada que valia 179 dólares.
Esse era todo o seu patrimônio.
Testemunhas disseram que, antes de ir embora, a fiscal deu um tapa no rosto de Tarek.
A banalidade do mal
Essa história é banal, e se repete milhões de vezes, todos os dias, em todo o mundo.
Ela se repete nas cidades brasileiras, agora, sob nossos olhos.
Mas a história de Tarek não terminou da mesma forma que as outras.
Inconformado com a extorsão de que fora vítima mais uma vez, Tarek foi ao palácio do governador para exigir seus bens de volta.
Quando o governador se recusou a recebê-lo, Tarek comprou um litro de gasolina em um posto, voltou para frente do palácio do governador e ateou fogo em seu corpo.
Ele morreu dos ferimentos alguns dias depois.
A morte de um homem simples
A morte de Tarek deflagrou a Primavera Árabe, uma onda de manifestações e protestos que varreram o Oriente Médio e o Norte da África.
Houve revoluções na Tunísia e no Egito, guerras civis na Líbia e na Síria, e protestos na Argélia, Bahrein, Djibuti, Iraque, Jordânia, Omã, Iémen, Kuwait, Líbano, Mauritânia, Marrocos, Arábia Saudita, Sudão e Saara Ocidental.
Em 2011, o vendedor ambulante Tarek Mohamed Bouazizi foi condecorado postumamente pelo Parlamento Europeu.
Tarek recebeu o Prémio Sakharov Para Liberdade de Pensamento, por sua contribuição para mudanças históricas no mundo árabe.
Nunca subestime a ânsia de um povo por liberdade.
Nunca subestime a importância de um homem.
Nunca subestime o poder dos símbolos.
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